lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 28/04/2015 - 16:08h
O problema que identifico aqui, senhores, não é uma questão das características técnicas da distro. Decerto que o Fedora tem um dos mais pavorosos instaladores da atualidade, mas esse é um problema facilmente contornável se o usuário for alfabetizado. Como diabos uma pessoa quer usar uma ferramenta sem ler o diabo do manual de instruções? Uma pessoa comum pegaria uma serra circular para fazer um corte em granito sem saber como fazê-lo? Não, pois do contrário se arriscaria a um acidente. Uma pessoa comum faria reparos na rede elétrica de uma residência sem desligar o disjuntor principal? Não, pela mesma razão: acidente. Portanto, se uma pessoa quer instalar um sistema operacional em um computador sem ler o manual do sistema em questão para saber como faz, tem mais é que perder seus dados, ver o HD e a placa-mãe queimar e o computador derreter em uma poça de plástico e silício.
O GNOME 3 é um lixo? Com certeza. Mas o do Fedora é o mais usável e estável das principais distros, então não vejo como isso é um problema pro Fedora. Contra-intuitivo? Desculpem-me, mas o computador é uma ferramenta, e quem usa uma ferramenta sem ler seu manual de instruções merece o que mesmo? Mesmo se o uso do computador for jogos, eu acredito que uma pessoa de bom senso deva ler o manual do seu console, seja ele um computador, um Mega Drive, um PS4, um Atari 2800, antes de sair ligando e usando - nem que seja para não invalidar a garantia. Então alegar que o GNOME 3 é contra-intuitivo é um reflexo direto dessa política de politicamente correto que está a destruir nossa espécie, está a destruir o que é ser humano. Começam censurando palavras (palavras essas que existem pelo simples fato de serem a mais adequadas para expressar uma determinada emoção), depois começam a tirar do homem a responsabilidade de pensar e entender, tratando-o como um inválido incapaz.
Refuto garbosamente os dois pontos expostos (o instalador do Fedora e a contra-intuitividade do GNOME 3) como simples
preguiça, vagabundagem e falta de vergonha na cara, pois talvez apenas o Arch Linux possua documentação mais farta e mais acessível do que a do Fedora. Uma vez que os manuais estão gratuitamente disponíveis, não os lerão apenas aqueles que querem ser tratados como inválidos e incapazes, que querem que o sistema pense por eles, decida por eles, faça quase tudo por eles. Pessoas desprezíveis por estarem abrindo mão de sua própria humanidade, pessoas que querem deixar de ser humanas!
Não só o Fedora, mas as outras distros que não tentam roubar (tanto) a humanidade do homem como os *buntu e derivados sofrem do mesmo mal. Nosso século viu a consolidação de um paradigma pavoroso, um paradigma de vida e de pensamento que nos torna passivos em nossa humanidade. Máquinas pensam e decidem por nós. Assistimos, gordos e sentados em um sofá, outras pessoas praticando esportes. Se precisamos de uma informação sobre como fazer uma coisa, não procuramos uma página na internet descrevendo o procedimento mas um vídeo no Youtube. Nossa ciência se tornou análise estatística. Não lemos, não pensamos, não vivemos, não somos mais humanos. Somos seres desprezíveis, falsos hedonistas sacrificando nossas almas em busca da Magna Preguiça - ideal que mascaramos com o uso da palavra "facilidade"...
Quanto ao sucesso dos *buntus... O sr. Shuttleworth só é uma pessoa extremamente pragmática que adequou seu produto aos "seres humanos" dos nossos tempos.
Linux for human beings, ele diz, e infelizmente ele está certo. Nossos contemporâneos - nós todos - não queremos a responsabilidade do decidir, do pensar, do escolher, do planejar. Queremos clicar no next>next>install. Queremos um particionador automático que adivinhe quais dados preservar. Não queremos escolher uma ideologia, desde que todo o resto funcione. Não queremos saber de política porque "nada vai mudar". Aceitamos uma religião como a única certa apenas porque fomos educados nela. O sr. Shuttleworth percebeu isso e está lucrando em cima de nossa idiotia coletiva. Vocês assistiram aquele filme, Wall-E? Eu adoro filmes para crianças, principalmente porque hoje em dia eles não são mais só para crianças. Mas voltando ao filme, nós já somos aqueles gordos em suas cadeiras móveis. Quem de nós pode dizer que está vivo de verdade, que é um ser humano de verdade hoje em dia?
Então, esse é o problema. Não é com o Fedora. É com os idiotas que nós nos tornamos.
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Luís Fernando Carvalho Cavalheiro
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Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta