Teixeira
(usa Linux Mint)
Enviado em 07/03/2011 - 01:10h
Já que está todo mundo falando de carnaval, uns contra e outros a favor, vamos também expressar nossas observações a esse respeito:
- A maioria das pessoas concorda que os carnavais de "ontem" foram bem melhores que o carnaval de "hoje". Os motivos para isso são vários, e muito complexos. Tão complexos que nem Freud explica...
- O precursor do "carnaval brasileiro" foi uma festa chamada "intrudo", que era uma completa bagunçam e onde as pessoas iam às ruas para molhar os outros e sujá-los de farinha de trigo...
Até aí não havia a mínima participação de negros e de sua cultura nesse tal intrudo. Aliás não havia arte nenhuma, cultura nenhuma, e ponto final.
- O carnaval não é uma festa "medieval". A forma mais antiga de carnaval conhecida vem da Grécia antiga, onde pessoas se dedicavam oficialmente por alguns dias à bebida e aos prazeres do sexo.
- A Quaresma, posterior ao carnaval, ERA um período muito respeitado até há alguns anos atrás. Durante a semana santa as emissoras de rádio tocavam exclusivamente música sacra. Hoje em dia tocam "funk" de qualidade e valores morais duvidosos EM PLENA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO.
- Com exceção de alguns estados no nordeste, o êxodo de pessoas que literalmente FOGEM do carnaval dos grandes centros é imenso, chegando a causar um certo transtorno nos principais terminais rodoviários.
- O Carnaval no Rio está ficando gradativamente uma porcaria, sim. Aquela tradicional animação das pessoas já não existe mais. Nos blocos só quem demonstra alguma animação é o pessoal da bateria. As pessoas seguem atrás como se fosse uma marcha para o exílio ou coisa assim.
Nas escolas de samba, o tal de "samba no pé" é raríssimo, e está em franca extinção. Hoje não se faz mais "samba" e sim "coreografia".
Esquema para mulher sambar na TV hoje em dia:
1- Dá uns 8 passos para lá e para cá (mais do que isso, falta preparo físico);
2- Dá uma reboladinha até o chão;
3- Estampa um "sorriso comercial" para a câmera (para onde fica olhando o tempo todo);
4- Passa a fazer mera figuração até acabar o samba.
- Com esse negócio de comercializar o carnaval no intuito de trazer turistas para gastar seus dólares aqui, a qualidade dos desfiles, do samba, das alegorias, dos enredos, tudo vem gradativamente caindo de qualidade. E hoje os sambas são executados para o The Flash, de tão acelerados que ficam, tirando completamente a espontaneidade, a musicalidade, a ginga e o bem estar dos sambistas.
- Há muitos anos atrás havia aqui na Estrada do Porto Velho (Cordovil) um carnaval muito animado, espontâneo, bem organizado e ordeiro, que sempre era prestigiado por autoridades administrativas da cidade, especialmente convidadas. Também na Avenida Lobo Júnior havia um carnaval mais ou menos mos mesmos moldes. E certamente deveria haver outros espalhados por aí.
Naquela época, São Paulo ainda era considerada pelos cariocas como sendo "a sepultura do samba". Hoje a realidade é bem diferente, e parece até que o samba está de mudança para lá. Ò lôco, meu!...
- Com a perda do respeito pelos valores societários, perdeu-se também a noção de muitas coisas. Hoje aqui em casa está um silêncio gostoso, e até as moscas estão "voando com asas de borracha".
Na quinta e na sexta-feira passadas, de 07:30 às 11:30 horas da manhã, um determinado colégio das vizinhanças, de orientação religiosa, promoveu festas de carnaval para seus alunos, com algumas marchinhas antigas e com certos funks modernos e totalmente dissociados de qualquer valor moral. Coisa que para uma instituição de cunho religioso é - no mínimo - estranha.
E com os amplificadores a pleno vapor, a ponto de não se poder atender a um telefonema (e eu moro distante uns 300 metros em linha reta)...
Dirão alguns que "os tempos evoluem" e que "não estamos mais no século 19".
Pode ser que esse argumento seja válido por aqui, já que dessa forma seremos "o país mais evoluído do mundo".
Mas ninguém chega com um argumento desses na Europa ou mesmo em nossos países vizinhos...
Moral sempre foi moral, ética sempre foi ética, educação sempre foi educação, urbanidade sempre foi urbanidade, respeito sempre foi respeito. Menos aqui?
-Não somente as cervejarias lucram com o carnaval. Existem muitos outros lucros envolvidos, como por exemplo a indústria hoteleira e a de serviços agregados, os quais geram uma grande movimentação de dinheiro, parte do qual será arrecadado em forma de impostos. Só que tem muitas outras formas de lucros imensos que não chamam tanto a atenção, e que passam quase despercebidas:
Drogas, preservativos, medicamentos, etc.
Tudo isso faz parte integrante do carnaval.
Não podemos ver somente uma possível beleza, sem enxergar também o seu lado negativo. Ou ver apenas o que é negativo. Afinal, ambos existem.
- Antigamente havia um produto chamado "lança-perfume" que era um cilindro metálico contendo um gás liquefeito perfumado e pressurizado, o qual era liberado com a finalidade de perfumar discretamente as pessoas. Com o tempo porém descobriu-se que esse mesmo produto poderia ser cheirado "in natura" como se fosse uma droga entorpecente.
Havia até quem o misturasse com bebida alcoólica.
Então esse uso se popularizou de tal forma que o lança-perfume passou a ser proibido em todo o território nacional. De vez em quando depara-se com alguém que conseguiu esse produto por vias ilegais, geralmente vindo da Argentina por forma transversa (é fabricado ali pela Rhodia).
O carnaval nos grandes centros urbanos é o mais perfeito laboratório de ensaio para esse tipo de coisas.
- Quando o Dr. Ryan esteve aqui pela primeira vez em 1985, saímos juntos em uma escola de samba do Rio de Janeiro, onde constatamos tantos problemas e situações, que somente isso daria um livro.
Normalmente as pessoas saem em escolas de samba "sem olhar para os lados".
É contudo uma experiência extremamente fascinante para estudiosos de sociologia, psicologia e psicanálise. E outros. O material é rico e vasto.
- Agora tem uma variante mais divertida, com os bois Caprichoso e Garantido promovendo a alegria do povo de uma forma mais mansa, mais bonita, mais saudável. Mas isso é bastante longe daqui, e em outra época do ano.
- Nunca fui chegado a carnavais. Talvez se eu fosse assalariado gostasse desse monte de feriados - e respectivos dias enforcados - que ainda temos no Brasil (foram-se alguns e vieram muitos outros).
Assalariados geralmente não percebem que quanto maior o número de dias improdutivos, menos dinheiro haverá circulando e maior será o endividamento do povo.
- Festas ditas populares são geralmente diversão para uns poucos, fuga para a maioria, e oportunidade ímpar para que pessoas tentem - e finalmente consigam - dar fim às próprias vidas.
Essas festas - inclusive o Natal - costumam conduzir algumas pessoas a estados de depressão profunda e possivelmente à morte. Infelizmente não existe um meio, um esquema para auxiliar tais pessoas assim em grande número. Depois elas simplesmente viram estatística.
Contudo, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não é em todos os lugares que o carnaval é ilusório, não é em todos os lugares que o carnaval é um antro de consumo desenfreado de drogas, bebidas alcoólicas ou de práticas sexuais ilícitas.
Não é em todos os lugares onde acontece gravidez indesejada, etc.
O que não podemos é fechar os olhos para o que acontece à nossa volta.
A igreja oficial, que instituiu o carnaval para que as pessoas pudessem "ter uma folga" e sair da austeridade do dia a dia, perdeu o controle do "monstro" que criou.
Se por um lado foi fácil para o clero determinar quando seria o plenilúnio do signo de Áries e contar 40 dias para tŕas (a Quaresma), por outro lado fica muito difícil, diante de um Estado laico, pretender do povo algum respeito no tocante a essa Quaresma e à propria Semana Santa.
O Brasil é o maior país cristão-católico, porém segundo dados do IBGE, apenas 18% dos que se dizem católicos são realmente praticantes, ou seja pelo menos vão à missa aos domingos com regularidade.
Esses 18% certamente não se aproximam de carnavais. Mas existe toda uma outra espécie da população que tem-se alienado dos valores morais e cristãos e que ingenuamente ou não têm permitido que os valores ensinados por nosso pais e avós tenham-se perdido no passado.
Hoje tem até igrejas evangélicas neopentecostais que organizam blocos de carnaval (!!!).
Isso confunde a mente das pessoas.
Adão e Eva foram expulsos do jardim do Eden porque comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não teve nada a ver com "maçã" e nem com "sexo", conforme afirmam alguns.
O homem portanto biblicamente já sabia o que era certo e o que era errado, porém o homem "moderno" finge esquecer-se disso e acha que está "evoluindo".