No final da página anterior comentamos que tem comunidades que vendem camisetas do software livre para ajudar o projeto (complementado-as ou não com a venda de cópias e serviço de suporte).
Essa história de camisetas me lembrou a questão do logo do
Fedora. Para quem não sabe, as 6 letras que formam "Fedora" são de uma fonte paga. Você pode conferir essa história
por este site que ironiza o Fedora, ou procurar na net por "Fedora" e "Bryant2" (nome da fonte). Apesar de ironizar Fedora, o próprio site coloca no final a consideração de que Fedora é uma marca, e como marca, os detentores não costumam querer modificações.
Em suma: você não pode mudar a marca do Fedora independentemente dela ter sido escrita com fonte livre ou paga. Foram exageradas as opiniões de que as pessoas não podem redistribuir Fedora, elas podem sim, a Red Hat, detentora do Fedora pagou o Bryant2 para poder usá-la e estampá-la por aí. O que as pessoas não podem fazer é dizer que gostaram da fonte e escreverem textos com Bryant2, ou poderiam até escrever textos, mas usando apenas as letras A, D, E, F, O, R com o mesmo padrão do logo do Fedora.
Para mostrar como os detentores querem proteger as marcas independentemente da fonte da logomarca: vários derivados do Ubuntu estavam pipocando por aí e então a Canonical resolveu definir quais eram os Ubuntus oficiais (como
Kubuntu,
Edubuntu) e os não-oficiais (
nUbuntu,
Zubuntu... existe até mesmo o
Satanic Ubuntu, que está na versão 666.7 e vem com o tema InHuman).
Assim, estamos vendo que existem as licenças de software as licenças da marca, logomarca.
E aí que me veio à cabeça um exercício para pensar nas diferenças entre licenciamento de arte e software, ou Creative Commons x GPL.
Apesar de
Creative Commons (CC) ter se inspirado na disseminação dos softwares livres, ela é bem diferente de
GPL, e não é apenas por não incluir cláusulas sobre software.
O que interessa em termos de negócios é que comparando CC x GPL, uma das atribuições de CC pode impedir trabalhos derivados, o que vai frontalmente contra um dos termos da GPL que é de permitir que qualquer um modifique o programa. E outra modalidade de CC tem atribuição não-comercial, enquanto que o GPL não proíbe o uso comercial do software copiado ou modificado.
As atribuições podem ou não ser combinadas (
Conheça as licenças), e de tempos em tempos elas são revisadas pelo Creative Commons, de forma que algumas combinações não são mais recomendadas, e no caso, parece que não é mais recomendado que uma obra sob CC junte as proibições de não-comercial e não-derivação (
retired licenses - creativecommons.org). Também existe a atribuição de Compartilhamento pela mesma licença. É possível combinar a atribuição compartilhamento pela mesma licença com a atribuição não-comercial mas é impossível combinar não-derivação e compartilhamento pela mesma licença.
Em comum com GPL: qualquer modalidade ou combinação de CC permite a cópia, ainda que atributos específicos impeçam a comercialização da cópia ou trabalhos derivados.
E já que estamos aqui, vamos comparar com a licença
BSD. Como o BSD permite que o trabalho derivado vire software fechado, também pode impedir a comercialização ou a derivação posterior àquele ponto (e o BSD transformado em software fechado permite a combinação dessas duas restrições, ao passo que o CC parece não recomendar mais a combinação das duas proibições - talvez tenham chegado à conclusão de que impedir trabalho derivado quase que automaticamente impede sua comercialização ou que quem faz trabalhos derivados tem direito a explorar comercialmente a obra, não sei, são só palpites).
Discordância com BSD: O BSD ao permitir o fechamento de software, permite também que não mais sejam permitidas cópias, enquanto que o CC, por mais que combine atributos restritivos (como o que discriminava nações desenvolvidas, mas esse é outro atributo que não é mais recomendado "This license is retired. Do not use for new works." -
devnations - creativecommons.org), mesmo assim o CC não chega a permitir restrição de cópia, o BSD sim.
Nos negócios, um produto GPL que inclua algo (logotipo, etc) em CC com atribuição não-comercial pode implicar que ela não seja comercializável, o que pode ser interessante dependendo da estratégia de venda. Lembrando que a questão é diferente do logo do Fedora, pois o logo é usável por quem queira distribuir e vender, o que não é permitido é o uso da fonte Bryant2 para qualquer texto.
Já um produto GPL com algo em CC com atribuição não-derivação, aí é meio complicado, pois entra em contradição com um dos princípios do software livre, de permitir modificação. A única saída possível me parece encarar isso como restrição do Ubuntu ao que é considerado derivado oficial do Ubuntu: os que foram modificados à revelia continuam a ser softwares livres, mas como Ubuntus não-oficiais (saíram da linha como o Satanic Ubuntu - rsrsrs).
Um produto BSD com CC, aí se for para virar software fechado, aí dessa vez é a licença CC que permite cópia, enquanto que o software fechado pode não permitir, embora hoje em dia, se não contarmos os softwares vendidos em CDs/DVDs nas lojas, muitos softwares fechados não têm mais restrição aos downloads e cópias mesmo quando cobram depois (shareware).