O famoso
Richard Stallman deu entrevista ao
LinuxMagazine de agosto de 2009 (o que pode ser conferido
aqui ou no
Br-linux.org, e ali ele diz: "Liberdade não é liberdade de escolha. Ter opção de se acorrentar reduz sua liberdade. É simples: engana-se quem identifica liberdade como liberdade de escolha, porque a liberdade de se permitir acorrentar não aumenta sua liberdade - provavelmente a diminui."
Algumas pessoas ao lerem essa declaração se lembraram da discussão entre as licenças
BSD x
GPL, pois a licença BSD permite que trabalhos derivados do software licenciado sob BSD se tornem proprietários, enquanto que o GPL diz que os trabalhos derivados têm de continuar a serem GPL, ou seja, softwares livres em oposição aos proprietários.
Dizem os defensores da licença BSD que essa licença, ao permitir fechar o software dá uma opção a mais de escolha ao programador que vai fazer obra derivada do software original: a opção de explorar comercialmente o novo software-produto da mesma forma como os desenvolvedores de softwares proprietários fazem.
Por outro lado, os defensores da licença GPL dizem que nada impede o software licenciado sob GPL de ser comercializado ao preço que convir. Um artigo da
Free Software Foundation (
FSF) diz que ao contrário do que muitos pensam, eles encorajam essa prática ("we encourage people who redistribute free software to charge as much as they wish or can") e que as pessoas podem cobrar desde nada a 1 bilhão ("You can charge nothing, a penny, a dollar, or a billion dollars") e recomendam o termo "distribuir software livre por uma taxa" ("distributing free software for a fee") ao invés de "vender" ("selling").
Mas é bom reparar que a FSF permite vender, mas não restringir o número de cópias, o que seria possível no software proprietário (não que todos os softwares proprietários restrinjam cópias, mas é prática comum). E outro aspecto é que softwares proprietários podem restringir o acesso ao código-fonte (embora haja os que apesar de proprietários são de código aberto.
Em termos de business: o software proprietário restringe que usuários comuns atuem (e talvez ganhem dinheiro) como copiadores ("piratas" que copiam) e também restringe que programadores atuem (e talvez ganhem dinheiro) como criadores de novos produtos derivados ("piratas" que modificam).
Estão certas as pessoas que observam uma contradição no discurso de defesa da liberdade do GPL: GPL garante liberdade menos a do software livre se comportar como software fechado. A meu ver não há problema nisso, até porque muitas leis, manifestos etc garantem plena liberdade para os indivíduos dentro do território X, menos a liberdade de irem para o território Y sem abrirem mão dos benefícios de estarem no território X. Ou então liberdade de comportamento para os membros X menos a liberdade para atuarem contra outros membros X.
O que nos interessa aqui é que os termos da GPL ao permitirem cópia e modificação acabam interferindo no modelo de negócios. Os adeptos da filosofia do software livre (incluindo os que defensores do BSD que pensam comunitariamente, ou seja, permitem uso proprietário mas não agem assim) dizem que no software pode-se ganhar dinheiro com suporte e não com a venda das cópias.
Por outro lado, a meu ver, a principal restrição que os programadores querem aproveitar da licença BSD é a restrição da liberdade dos usuários comuns (leigos) fazerem várias cópias dos programas. Assim, a licença BSD garante mais liberdade para a comunidade dos desenvolvedores, mas menos liberdade para a comunidade dos usuários. Claro que há muitos programas sob licença BSD que permite que usuários comuns copiem, o sistema
FreeBSD é um exemplo. Mas essa liberdade não é garantida pela licença, e o
MacOSX que usa pedaços do FreeBSD é um exemplo.
Mas afinal as licenças não são para a comunidade de desenvolvedores mesmo? Acho que no mundo atual, em que os softwares livres estão difundidos a resposta é sim e não. Sem dúvida, no início tanto o GPL quanto BSD foram pensadas para os programadores, mas a disseminação conseguiu fazer, por exemplo, com que as pessoas (da mídia em geral) repensasse sobre clausuras dos softwares proprietários tais como de restrição para países como Cuba ou Irã. Daí pergunto: a liberdade visava a liberdade para os programadores cubanos ou para o povo cubano? SE o software livre é citado em programas de inclusão digital é para incluir os programadores ou os leigos?
Para o empresariado (ou cooperativados, ou seja lá que outros modelos de empreendimento) vamos resumir da seguinte forma: Para o empresário-programador a licença BSD permite a exploração comercial no modelo proprietário, ou seja, com restrição de cópia e de criação de produtos derivados. O empresário-leigo (que não entende de programação) que esteja lidando com licença BSD pode ou não vender cópias, dependendo se ele está lidando com coisas como FreeBSD ou como MacOSX. No último caso, uma parte da venda tem de ser repassada à Apple. E no caso de licenças GPL, tanto o empresário programador quanto o leigo podem vender cópias, mas o empresário programador tem a vantagem de oferecer suporte. Contudo, o empresário-leigo pode vender uma versão modernizada (que tenha incluído suporte a alguma coisa, que talvez tenha pedido ao empresário programador como cliente) sem repassar uma parte para o programador.
Vejamos adiante mais casos interessantes.