lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 18/04/2015 - 17:29h
Lá nos anos de 1996 um garoto de 10 anos de idade ganhou um PI-100MHz com 8MB de RAM e 250MB de HD (cacete, como isso era coisa na época!). Windows 3.1, tudo bonitinho como um computador recém-comprado na época poderia ser. Umas duas semanas depois um tio desse garoto, que trabalha na Infraero, disse que estavam jogando fora alguns 486 com 4MB de RAM e perguntou se ele queria um. Foi o moleque todo feliz buscar o computador na casa desse tio, já que ele morava só a uns seis quarteirões de distância. No caminho de volta da segunda viagem, já com a CPU na mão (o monitor foi na primeira), o garoto passa por uma banca de jornal e tinha uma revista sobre um tal de Slackware 3.0. Leitor compulsivo (do tipo que lê propaganda de agiota legalizado - banco - caído no chão até hoje), o garoto parou pra ver a capa da revista, se interessou e comprou uma sem nem saber direito do que se tratava. Quando chegou em casa e parou pra pensar sobre o porquê comprara a revista, ele só conseguiu concluir "ah, o nome soara legal..."
Então o garoto parou para ler a revista. "Hm, sistema operacional gratuito e livre? De acordo com o Hacker Manifesto (nota: que o garoto já havia lido)? Vamos testar essa coisa aí." O garoto pegou o 486 e "cuidadosamente" instalou o Slackware nele - e sem ter nenhuma surpresa, já que o Slackware é a distro mais garantida de todas até hoje. Cuidadosamente significou formatar tudo, passar um zero-fill no HD e particionar direitinho como tem que ser. Resultado: com dois dias de dedicação o 486 estava voando mais baixo do que o PI-100MHz! Querem mais surpresas: esse 486 até hoje funciona rodando o Slack 8.1 e atuando como servidor de arquivos na casa da mãe do tal garoto.
Claro que crescer com o Slackware de um lado, com os subgênios de outro (o garoto, na subcultura hacker da época, atendia como Reverendo Baron Samedi da Igreja dos Subgênios, e ele cancelaria sua afiliação apenas em 2008 porque simplesmente esqueceu de renová-la), com Thelema no colo (Crowley e François Rabelais para um cidadão de 11 anos... esses pais realmente sabem educar um filho) e com o Hacker Manifesto nas idéias não ia fazer bem pra ninguém. O garoto cresceu e apesar de não ser um programador (ele se focou em rede e hardware, como a maioria dos hackers da época fizeram) e não ter contribuições muito ativas na comunidade (sabe como é, um hacker thelemita slacker não é uma figura que procure fazer parte de uma comunidade), ele foi dominando o Slackware pelo rabo e hoje vira e revira o sistema pro lado que quer. E amparado por seu conhecimento e experiência afirma que nenhuma outra distro tem sequer metade da competência do Slackware.
Que distros esse garoto já usou? A lista é longa: Debian (kernels Linux, kFreeBSD e HURD), Yggdrasil, RedHat (na época em que ela ainda era gratuita), Fedora, CentOS, openSUSE (antes e depois da Novell), Ubuntu (para criticar é preciso conhecer, mas não passei pelos derivados porque eles não são nada além de chupinhações sem existência autônoma, então ao conhecer o Ubuntu você conhece todas), Mandriva, Mageia, Arch, Gentoo, Sorcerer, Ututo, Linux From Scratch, Puppy... Foram muitas. Fora o FreeBSD, pelo qual o garoto nutre uma simpatia e já afirmou algumas vezes que se o Slackware um dia deixar de existir é pro FreeBSD que ele vai pular.
Por que o garoto continua um Slacker? Porque ao contrário de muitas distros aí dessa lista, o Slackware funciona, e ao contrário das que funcionam, ele é simples. O garoto faz o que quer e o que não quer no Slackware sem nada perturbar o juízo dele, e é isso que um adepto do Hacker Manifesto espera do hardware: homem mandando na máquina, e não o contrário. Porque a informação deseja ser livre e empresas como a RedHat, a Oracle, a Nvidia e a Canonical querem fechá-la. Porque ele é de fato um defensor do software livre, não apenas um usuário. Então, meus caros...
keep it simple, stupid, and use Slackware.
É necessário dizer que o garoto tem o temperamento raivoso de um dinossauro sem paciência para os folgados que essas distros tipo o Ubuntu (que querem facilitar as coisas sacrificando a simplicidade e o aprendizado) produzem aos montes? Ou melhor, é necessário dizer quem é esse garoto da fábula?
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Luís Fernando Carvalho Cavalheiro
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Licenciado Pleno em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Mestrando em Medicina (Cardiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro