Teixeira escreveu:
Rapaz, eu lendo esse seu artigo aqui e viajando no tempo. Um preço que se pagou, e caro, pelo avanço tecnológico foi que com a "morte" do vinil, morreu também todo aquele ritual de acompanhava a compra do mesmo. Entrar na loja e fuçar nas prateleiras atrás das novidades, pegar o vinil, abrir o cara, folhear os encartes, admirar a arte da capa, dar um trato nos discos com um pano e óleo de peroba ou linhaça ( sim ! eu passava isso nos meus e ficava com um brilho maneiro) e depois o prazer de colocar a agulha no bichinho e ouvir aquele som maravilhoso...Enfim, é o preço que se paga. Hoje vc compra um cd caríssimo e na terceira manuseada a capa já foi pro saco, o cd já tá riscado, o encarte é uma coisa de feio e miúdo. Na minha época de vinil eu tirava "furo" e disco com agulha de costura da minha mãe. Ficava jóia. Técnicas que a gente aprendia na marra. Altas lembranças, hehe !
O mundo moderno tem suprimido de nós alguns "rituais" que enriqueciam a vida de muitos.
Eu me lembro de meu padrinho fazendo cigarros de palha: Seu prazer não era propriamente o de apenas fumar o cigarro, mas o de picar o fumo comprado especialmente, pegar a palha de milho selecionada, cortá-la no tamanho adequado, alisá-la, enrolar o cigarro, dobrar a ponta, e somente então acendê-lo - preferencialmente com uma binga, que é aquele isqueiro super-primitivo.
Tudo ordeira e pacientemente.
Para ouvir discos de vinil também havia esse ritual básico, muitas vezes enriquecido em muitos outros detalhes, desde o perfeito balanceamento do braço da pickup, até a procura de produtos exóticos para limpar os sulcos do disco.
Tive um amigo japonês que tinha dois conjuntos de som, um para ouvir jazz e outro para ouvir clássicos, cada qual com sua equalização, potência, caixas acústicas e pickups diferentes, sendo um deles valvulado (para aquele som mais "macio", e outro transistorizado, para aquelas respostas mais rápidas e "secas").
Outro amigo, dedicava os sábados inteiros para lavar e lubrificar, ele mesmo, seu automóvel.
Mangueira, xampu, pincel, panos, cera, tudo na ordem preestabelecida, que culminava na aplicação de óleo de mamona por baixo do carro, e a ida até uma estrada de terra para que a poeira aderisse ao chassis, o que segundo ele, garantia uma proteção extra contra corrosão.
Meu primo cuidava da piscina como se fosse seu xodó.
Aliás, a piscina dele é muito mais bem cuidada que a de qualquer clube conhecido, e essa dedicação parece que é hereditária, pois um de seus filhos o segue já há muitos anos nessa mesma dedicação.
Hoje em dia parece que "não temos tempo para ter paciência" nem mesmo para cuidar de detalhes prazeirosos, e o próprio Freud nos expulsaria de seu consultório (embora gentilmente, com bastante "Freundlichkeit" assim "na base do espanador"), porque certamente teria mais o que fazer...
Concordo em gênero, número e grau. Mas uma coisa que a "modernidade" nunca vai nos tirar são as boas lembranças e a oportunidade que tivemos ao ter contato com estas tecnologias, coisa que gerações mais novas nunca vão ter. Enfim, digo tudo isso não como uma crítica à tecnologia, que é importantíssima, mas ao descaso que ela faz do que passou e um dia foi importante como se aquilo nunca tivesse existido. Sorry.