Com frequência, me deparei com tópicos aqui no Viva o
Linux que de alguma maneira se relacionam com o tema do aprisionamento tecnológico, também conhecido como lock-in, em inglês. Interpretei isso como um sinal de que estava na hora de escrever um artigo sobre esse assunto, que apresento agora.
No fim do artigo, como sempre faço, coloquei algumas referências relacionadas ao assunto e que serviram de base para este artigo. Recomendo fortemente que sejam lidas.
O que é o aprisionamento tecnológico
O aprisionamento tecnológico é uma estratégia comercial moralmente questionável. Consiste na criação de uma dependência do consumidor em relação ao fornecedor. Essa dependência costuma vir acompanhada de altos custos, relacionados geralmente a reparos, atualizações e melhorias. Em resumo, é uma relação parasitária.
Um exemplo disto é o que está acontecendo em muitas fazendas nos Estados Unidos. Grande parte dos tratores, quando apresentam defeitos, só podem ser reparados pelo próprio fabricante. Os custos de reparo e troca das peças costumam ser altos, e existem barreiras técnicas que impedem que os fazendeiros levem seus tratores a mecânicos independentes. O resultado é um número crescente de fazendeiros hackeando seus tratores para não ficarem reféns dos fabricantes. O problema é que para fazer isso, eles estão recorrendo a programas de origem duvidosa, que são vendidos em um mercado paralelo.
Muitas vezes a escolha de um fornecedor de determinado produto ou serviço pode parecer atrativa, à primeira vista. Entretanto, à medida que se usa esse produto ou serviço, vai se criando uma dependência em relação ao fornecedor, até que se chega em um ponto em que os custos de migração para outra tecnologia ou outro fornecedor tornam-se altos demais. Quando isso acontece, o fornecedor ganha um grande poder de barganha em relação ao consumidor, pois poderá impor condições abusivas ao consumidor sem que este abandone o serviço.
Uma das consequências mais graves do aprisionamento tecnológico é a formação de monopólios. Uma vez que um fornecedor de determinada tecnologia domina o segmento em que atua usando desta prática, fica muito difícil para outros fornecedores conquistarem a sua fatia de mercado. Em outras palavras, a prática do aprisionamento tecnológico cria barreiras para a competição e portanto não é apenas ruim para os consumidores, mas também para possíveis concorrentes.
Aprisionamento da informação
O aprisionamento tecnológico é especialmente crítico quando se lida com informações. A maneira que se escolhe para armazenar informações deve ser feita com muito cuidado, pois à medida que o tempo passa, a quantidade de informações armazenadas tende a aumentar. Isso significa que os custos de uma possível migração no futuro também vão aumentar.
A perda de informações pode significar a ruína de todo um negócio, ou ao menos um grande prejuízo. Muitos fornecedores de produtos ou serviços relacionados à tecnologia da informação se aproveitam disso. Quando a informação é armazenada de forma que seja acessível somente por um produto específico, o dono desta informação fica refém do fornecedor deste produto para continuar tendo acesso às próprias informações.
Porém o que acontece se ele precisar mudar de fornecedor? Inúmeros motivos podem ser elencados para justificar uma migração. Alguns possíveis exemplos são:
- O fabricante / provedor do serviço pode vir à falência;
- O custo do serviço / licença pode se tornar inviável;
- Uma tecnologia mais aderente às suas necessidades pode surgir;
- O provedor do serviço pode definir novas políticas / termos de uso, com os quais o cliente talvez não concorde;
- O serviço ou produto pode depender de tecnologias que não são mais viáveis dentro da sua infraestrutura.
Então é importante ter sempre um plano B, isto é, estar preparado para migrações no futuro. Bons gestores sabem quanto tempo, esforço e dinheiro isso pode poupar. E essa regra vale para tecnologias domésticas ou pessoais também, não apenas dentro de empresas. Acontece que certos serviços e tecnologias acabam criando uma bolha da qual é difícil se desvencilhar, o que inviabiliza uma possível migração. Essa estratégia é vantajosa apenas para o provedor do serviço, mas pode se tornar um grande problema para o cliente.