A Cemig iniciou os testes do acesso à internet em banda larga via rede elétrica, no final do ano passado, em Belo Horizonte. Foram investidos R$ 200 mil para instalação dos equipamentos em 40 pontos da capital mineira. O projeto está sendo feito em conjunto com a Infovias (joint-venture formada pela estatal e a AES, para transmissão de dados, voz e imagem) e a suíça Ascom, idealizadora dos equipamentos. Segundo informações da assessoria de comunicação da Cemig, o canal de acesso usado no projeto piloto tem uma velocidade de 2 Mbps, o que corresponde a uma velocidade quase 50 vezes maior que o acesso via rede telefônica.
O objetivo das empresas envolvidas no programa é identificar os serviços agregados para viabilizar a proposta comercialmente. Quanto mais serviços forem oferecidos via rede elétrica, maior será o retorno. Por isso, estão sendo estudados processos que vão permitir a leitura remota e em tempo real dos relógios de luz e das curvas de cargas das residências, além de disponibilizar serviços de TV a cabo e televigilância.
Outra distribuidora de energia que vem testando o sistema PLC é a Copel Telecomunicações, do Paraná. A Copel gastou R$ 1 milhão para levar o sistema elétrico de banda larga a 50 domicílios e estabelecimentos comerciais de Curitiba. Os experimentos demonstraram que a tecnologia funciona, mas o custo de sua infra-estrutura é alto, corresponde a quase 50% da instalação de uma rede de linhas telefônicas digitais (ADSL). Outro problema identificado é a distância. O recurso funciona em aparelhos instalados em circuitos curtos, onde a distância entre a fonte do sinal de dados e a residência do usuário é de cerca de 300 metros. Nessas condições, a Copel conseguiu taxas de transferências de até 1,7 Mbps.
A concessionária de energia elétrica Eletropaulo Metropolitana também iniciou testes práticos de viabilidade da tecnologia PLC na região metropolitana e no interior do estado de São Paulo. A empresa deve seguir os mesmos moldes do projeto da Cemig, o projeto de oferta da PLC em alta velocidade segue a estratégia do grupo norte-americano AES, conglomerado de geração e distribuição de energia, que detém ações de ambas as distribuidoras de energia.
O grande desafio na implantação da PLC é a adaptação de suas condições ao sistema elétrico brasileiro, na Europa e nos Estados Unidos, a rede é subterrânea, ou seja, não sofre interferências do meio ambiente.
ASCOM - A ASCOM Powerline Communications (APC) é uma subsidiária da ASCOM Holding e foi estabelecida em 1999. Tem tecnologia já comprovada para trazer a Internet de banda larga (até 4.5 Mbps hoje, com possibilidades de até 40 Mbps dentro de 3 anos) e telefonia às casas e às empresas via linhas elétricas comuns. A APC está em fase de expansão e colabora com algumas das maiores empresas de serviços de utilidade pública no mundo na área de energia elétrica, no caso Brasil atuando com a Cemig Companhia Elétrica de Minas Gerais. Atualmente operando na Europa, na Ásia e na América Latina (até agora só no Chile). O sistema está funcionando atualmente em 16 países.
Para implementar estas soluções precisa-se da colaboração entre uma distribuidora de energia elétrica, uma companhia telefônica e um provedor de serviços Internet. A ASCOM está contemplando o estabelecimento de uma fábrica de modens e outros equipamentos especializados no Brasil para servir o mercado brasileiro, do MERCOSUL e da América Latina.
A PLC pode ser a solução chave para levar a Internet (com seus governos eletrônicos) e a telefonia para qualquer casa com uma conexão elétrica, uma solução de acesso popular quando combinada com o uso de uma caixa pequena tipo WebTV usada com um aparelho comum de televisão.
Em breve, deve chegar também ao Brasil, por intermédio da distribuidora PI Componentes - novo nome da União Digital -, o Power Packet, circuito integrado dotado de um chip para ser integrado a aparelhos como telefones, decodificadores de TV a cabo, televisores, câmeras de vídeo e outros eletrodomésticos. Funciona como um modem e sua função é captar sinais de dados, voz e imagem recebidos por qualquer meio como cabos de cobre elétricos ou de telefonia, fibras ópticas ou cabos coaxiais de TV.
Produzido pela norte-americana Intellon Corp., o Power Packet tem como público-alvo os fabricantes de modens, de sistemas de automação residencial e comercial e as distribuidoras de energia elétrica.
O primeiro alvo dos desenvolvedores de PLC, na verdade, será o público residencial. Mas o mercado corporativo, representado pelos provedores de acesso, de data centers, Web sites, é o que apresenta o maior potencial de rentabilidade.
A tecnologia PLC seria uma solução perfeita se não fosse pelo fato de as linhas de força - assim como a rede telefônica no passado - não serem consideradas meios ideais para a transmissão de dados.
Dentro e fora de casa, a rede elétrica está sujeita a todo tipo de interferência e ruídos gerados por fontes chaveadas, motores e até dimmers.
Outro fator negativo das redes elétricas é sua oscilação: características como impedância, atenuação e freqüência podem variar drasticamente de um momento para o outro, à medida que luzes ou aparelhos conectados à rede são ligados ou desligados. Além disso, se a intenção for transmitir informações a longas distâncias, os transformadores de distribuição são verdadeiras barreiras para a transferência de dados. Apesar de permitirem a passagem de corrente alternada a 50 Hz ou 60 Hz com quase 100% de eficiência, os transformadores atenuam seriamente outros sinais de maior freqüência.
Para atender às suas próprias necessidades, as distribuidoras de energia elétrica ocasionalmente criam soluções que fazem com que esses sinais contornem ou até atravessem os transformadores por meio de redes especiais de alta freqüência. Novas técnicas são capazes de recuperar sinais fortemente atenuados, entretanto somente as grandes empresas tem acesso a essa tecnologia.
Outra desvantagem vem do fato de a PLC ser uma mídia compartilhada e estruturada de modo paralelo. Assim, todas as casas conectadas numa mesma subestação local estarão compartilhando a largura de banda disponível. Isso significa que o desempenho da conexão pode variar de acordo com o número de pessoas que estiverem navegando ou baixando arquivos simultaneamente.
Apesar desses revezes, a PLC também possui outras características interessantes, além do aproveitamento de uma infra-estrutura já existente. A principal delas é ter a Internet sempre à disposição, 24 horas por dia. A atual velocidade máxima de 4,5 Mbps é bem maior que a de uma conexão ISDN (128 kbps) ou ADSL (faixa dos megabits por segundo).
Outra característica interessante da PLC é a possibilidade de transformar toda a infra-estrutura elétrica de uma residência ou edifício em uma rede local de dados, onde cada tomada pode ser encarada como um ponto de acesso que pode ser usado de maneira simples e descomplicada.
Essa idéia de transmitir dados sobre rede elétrica também poderia ser aplicada para interconectar dispositivos inteligentes dentro de uma casa. No início de 2000, a empresa Sunbeam - por meio de sua subsidiária Thalia Products - anunciou uma linha de eletrodomésticos inteligentes que trocavam informações no momento em que eram ligados à tomada. Batizada de HLT (Home Linking Technology), a iniciativa pretendia lançar produtos como despertadores, detectores de fumaça, cafeteiras, cobertores elétricos, medidores de pressão arterial, capazes de se comunicar. Por exemplo, o despertador poderia ser programado para mandar uma ordem à cafeteira para começar a preparar o café um pouco antes do pessoal da casa sair da cama. Num futuro próximo, até será possível colocar um filme em DVD no PC da casa e transmitir o som e a imagem para uma TV compatível pela fiação interna.