Filosofia do Open Source, um novo jogo?

Muitos crêem que o Linux é uma mudança de mentalidade ou algo semelhante que implique numa "mudança de postura", como se costuma definir as novas eras. Esse artigo mostra uma outra face menos romântica, ou menos psicológica das alterações causadas pelo Linux: a regra do jogo.

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Por: Edwal F. Paiva Filho em 28/04/2010


A teoria dos jogos



A teoria dos jogos, ainda que tenha ganho popularidade nos tempos mais recentes, é antiga. Sua origem remonta dos anos 1920, mais particularmente das teorias "hereges" de Vilfredo Pareto. A eficiência de Pareto é enunciada mais ou menos assim: Se alguém pode aumentar seus ganhos sem prejuízo de outrem, o sistema não atingiu a máxima eficiência.

Os desdobramentos da teoria levaram a análise dos sistemas como jogos, onde se perde e se ganha. Um jogo de soma zero ocorre quando o ganho de um, corresponde às perdas de outros. Há variantes mais ou menos assim: Uns sempre ganham outros sempre perdem, mas os perdedores são compensados pelos ganhadores. Enquanto a compensação for aceita pelos dois lados o jogo continua, para desespero dos idealistas.

O fenômeno ideal seria crer no lado racional (*) da natureza humana, ou conforme a teoria dos jogos, seria o jogo ideal ou jogo perfeito.

No desenvolvimento de um software open source o jogo é colocar uma unidade e receber muitas. Se o projeto ideal tem 10 participantes ideais, todos põe 1 e tiram 10. Se tiver um milhão de participantes ideais no projeto ideal, todos põe 1 e tiram um milhão. É difícil conceber um investimento mais lucrativo!

Quer testar? Olhe na internet as páginas da fundação Debian, que praticamente não paga para desenvolver código!

Há estudos (infelizmente eu ainda trabalho para pagar minha comida e não tenho tempo para ler tudo) sobre impostos que mostram que todos os sistemas tributários são imperfeitos. O sistema perfeito seria cada um contribuir logicamente (*) com aquilo que pode contribuir e seria maximizada a felicidade global (vai lá uma pitada de utilitarismo de John Stuart Mill); mas, como os homens nem sempre são racionais, os impostos são coletados por lei , ou à força, como queira.

Obviamente na prática, o projeto ideal, com participantes ideais, é raro, mas pode-se praticar, como os americanos dizem, algo "close to optimum", ou seja, uma aproximação aceitável do que seria ideal. Na prática entram os participantes aproveitadores que nada põe e tiram tudo, mais conhecidos como simples usuários, certo? Errado.

Vamos expandir o escopo do jogo, introduzindo uma pitata de utilitarismo. Para que serve o trabalho (projeto)? Em princípio para satisfazer quem trabalha, ou quem fez o projeto. Vamos considerar que alguém utiliza o resultado do trabalho ou o resultado do projeto. Aí a conclusão muda, o trabalho ou projeto trouxe resultado, ou seja agregou algo para outros participantes do jogo.

Os participantes do projeto open source adquirem uma enorme vantagem competitiva, um grande acúmulo de conhecimento, desenvolvimento rápido e teste veloz (debugging); mais do que isso obtém uma rápida retro alimentação (feed-back) do consumidor final, com custo mínimo.

Continuando a ampliação do jogo; O projeto passa a ser utilizado por uma massa numerosa de usuários, atrai patrocinadores, propaganda e eventualmente clientes.

Muitos menosprezam a força da popularidade do jogo, o que obviamente é um equívoco. O beisebol não tem adeptos numerosos no Brasil, e movimenta pouco dinheiro. Nos Estados Unidos é um dos três esportes mais populares e movimenta bilhões. A popularidade é vital para o sucesso e para a continuidade do projeto.

Logo a massa numerosa periférica na utilização dos resultados do projeto garante a continuação do jogo; não é por acaso que produtores de software comercial oferecem programas limitados a estudantes e às universidades. Nas escolas de engenharia há produtores de CAD ofertando versões de aprendizagem gratuitas. Num extremo menos elegante, certa pirataria é tolerada para angariar usuários.

(*) O termo racional não tem significado para os intelectuais que crêem que homem não é lógico e nem poderia ser, senão a sociedade atomizaria.

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Páginas do artigo
   1. Considerações conceituais
   2. A teoria dos jogos
   3. Conclusão
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Comentários
[1] Comentário enviado por valterrezendeeng em 28/04/2010 - 09:13h

Gostei do Artigo, Principalmente da Conclusão

Lembro do Novell Netware, Excelente Servidor de Rede, mais entrou para história e foi descontinuado. Hoje a Novell está com o SUSE.

Temos tabem a SUN que abriu o JAVA e a Oracle que até tem uma distribuição Linux entre outros

Abraço

[2] Comentário enviado por Teixeira em 28/04/2010 - 10:11h

Gostei muito do artigo, de suas ponderações e também de sua conclusão.

- Já existe há muito tempo o desejo mundial de "reciclar" linhas de código, e acho que isso veio de alguma forma coincidir com as idéias do open source.
Inclusive já teve aqui no Brasil um simpático "maluco-beleza" que desejou fazer um movimento asim, e que não se enquadrando como associação ou colegiado, passou a ter o nome de "Igreja Tringular do Resíduo Digital" (quem se lembra?).
A idéia original era boa e séria, mas andaram aparecendo alguns fanáticos com outras idéias bem mais malucas, incusive pregando o suicídio em massa.
Para evitar problemas, o idealizador da "igreja" reolveu dar um fim à história, antes que acontecesse alguma fatalidade...

- Muitas coisas que legalmente já deveriam estar sob domínio público por decurso de prazo e caducidade de patentes (segundo o direito internacional) na verdade não estão, por motivos muitas vezes inexplicáveis. Dentre os tais se destacam a fórmula da Coca-Cola, o MS-DOS, e o Windows 3.x. da Microsoft.
Mas também há um gancho legal onde aquelas empresas se apegam: è que para ser considerado "de domínio público" o bem deveria ser assim disponibilizado pelos donos de tais patentes drurante o prazo de vigência de tais patentes. (Hmm, que furo, não?...)

- A teoria dos jogos, embora não seja perversa, é um tanto cruel. No entanto, as regras são aquelas mesmo, doa a quem doer.

- Quanto ao tributarismo, acho que toda a população (municipal, estadual, federal, mundial) deveria pagar um imposto único, algo "como se fosse um dízimo" mas cujo percentual fosse cuidadosamente estudado de forma a que todos pudessem efetivamene contribuir e que em contraparte tivessem COM QUE contribur. Partes de Tal imposto seriam repassadas proporcionalmente do municípo gerador para o stado e para a Federação.
Evidentemente os governos deveriam investir (de verdade) em esruturas que permitissem uma melhor distribuição de renda, alimentando assim a galinha dos ovos de ouro.
Atualmente os políticos se preocupam em aumentar infinita e indevidamente o número de "repesentantes do povo" e que na verdade em nada os representam, antes locupletam-se com verbas as mais diveras e sobretudo LEGISLAM EM CAUSA PRÓPRIA.

Para que ninguém diga que sso seria uma utopia, vamos citar apenas um país entre os muitos que têm um único imposto principal e que é a espinha dorsal da arrecadação: A Austrália.
(Uma outra parte da arrecadação é feita através de multas sobre infrações. Mas imposto é imposto, e multa é multa).
Aqui se paga imposto sobre o que não se tem efetivamente e que não se sabe se um dia chegaremos a ter. Outros países adotam a tributação sobre "lucro futuro presumido" , que também a meu ver é uma arrecadação bastante distanciada de conceitos justos. E entre esses tais paísees se encontram os Estados Unidos e a Inglaterra.

- A filosofia do open source é uma modalidade de jogo que busca um eterno desequilíbrio, uma espécie de "moto contínuo".
No dia em que tal equilíbrio for hipoteticamente conseguido, o jogo estará acabado, restando saber QUEM será a parte vencedora.
Por enquanto, o open source joga com poucas fichas contra um jogador cujo cacife é extremamente alto, mas que em compensação nao tem TODAS as cartas.
Simplifiando (ou complicando mais ainda), é como se o "open source" jogasse com três ases e o "software proprietário" com a maioria das cartas.

[3] Comentário enviado por Teixeira em 28/04/2010 - 10:41h

Esqueci de falar sobre a Novell.
Há muitos anos atrás havia uma importante fábrica brasileira de modems - a Cetus.
Seus modems em nada ficavam a dever aos mais famosos modelos importados.
Foi intentada uma parceria com a Novell, e parece que as coisas estavam indo bem, mas naquela época existia uma tal de "Reserva de Informática" que nunca beneficiou o Brasil, exceto a uma única empresa (estatal), a qual vendia montes e mais montes de computadores (literalmente falando) sempre para empresas igualmente estatais, que faziam pilhas intermináveis com os computadores ainda encaixotados e que jamais foram abertos para uso.
Essas pilhas de computadores eram encontradas na Petrobrás, no Banco do Brasil, etc., etc. por vezes até mesmo nos corredores, dada a quantidade que era realmennte enorme.
(Se 2% de todos aqueles computadores foi realmente instalado, quero ser mico de circo).
O resultado já era esperado. Não dá para fabricar apenas o modem sem o suporte de uma tecnologia adequada. Os demais modems tinham a "espantosa" velocidade conhecida como 1200/75 (transmitia a 1200 bauds e recebia a 75 bauds; é claro que isso gerava uma quantidade enorme de pulsos telefônicos - e hoje a gente ainda reclama das conexões dial-up de 56 quilobauds!). Mas reclamar seria totalmente "debaud".
A Cetus dentro de pouco tempo entrou em concordata e fechou as portas. A Novell ficou por um longo tempo impedida de ser comercializada LEGALMENTE em nosso país.
Como era de se esperar, o que havia de pirataria de hardware naquela época era coisa inimaginável.
Vinham containers e mais containers fechados (que "por ordem superior" sequer passavem pela alfândega) carregados de produtos de informáica disfarçados sob as mais variadas desculpas (*).
Ah, o texto integral do "carimbo mágico" era um lacônico "Por ordem superior deve ser atendido sem embargos" . Com a data, e a assinatura do Gandola.
E por outro lado, o vai-e-vem na Ponte da Amizade começou a aumentar exatamente na mesma época...

---

(*) Entre os muitos e muitos trambiques de natureza alfandegária, acho que o mais famoso é o da importação lá pela década de 50, de um bem descrito como sendo um "motor a gás pobre, sobre rodas": Era um Cadillac "rabo-de-peixe", um automóvel caríssimo e que fazia cerca de 3km com um litro de gasolina.

[4] Comentário enviado por ribafs em 28/04/2010 - 11:01h

Uma beleza de artigo.
Afinal de contas nem só de bits pode viver o homem.
Acredito que este tipo de reflexão amplia nossos horizontes.

Meus sinceros parabéns e ficarei feliz em ler novos textos seus, Edwal.

Gostaria fraternalmente de discordar do colega que comentou:

- A teoria dos jogos, embora não seja perversa, é um tanto cruel. No entanto, as regras são aquelas mesmo, doa a quem doer.

A questão, a meu ver, é que a filosofia embutida ou pelo menos subentendida no open source é de colaboração, fraternidade.
Acho que disso nosso mundo parece que sempre teve carente e ao meu ver o softeare livre vem trazendo isso como proposta e bem pelo menos pingando isso aqui e ali.
Eu fico impressionando como alguém gasta boa parte do seu tempo, produzindo algo de grande valor e de grande qualidade e ainda por cima compartilha da forma mais generosa. Essas pessoas que agem assim são meus amigos, meus familiares, mesmo que eu nunca os tenha visto nem venha a ver. Sou grato a todos e procuro retribuir de forma semelhante.
Felicidades a todos!

[5] Comentário enviado por vinipsmaker em 29/04/2010 - 07:37h

Parabéns pelo artigo, vai pros favoritos.

[6] Comentário enviado por nicolo em 31/05/2010 - 12:38h

Estava consersando outro dia sobre isso. A força motriz do open source foi um equívoco daqueles do zeitgeist (o espírito do tempo).
Quem estudou algo de marketing já entendeu que a força revolucionária da ambição privada está contida e cerceada dentro das leis maquiavélicas..... começam como raposas e terminam como leões. Isso ocorre porque venceram e cresceram. Olhem a IBM, a Novel a Sun system, das que sobraram para contar a estória, outras nem existem mais. Nasceram como raposas espertas, cresceram e ficaram fortes e viraram leões. O interesse pela esperteza ficou no passado.
A transposição do velho Unix para o desktop não foi a idéia original... quer dizer não teria sido se não fosse o tal do downsizing. O downsizing caiu no colo da Microsoft, empurrando o windows NT para os servidores. A concorrência sentiu o tranco e buscou uma saída.
Após gastarem bilhões em desenvolvimentos de sistemas operacionais proprietários, a concorrência achou a saída no open source.

As IBM, NOVEL, Sun etc preferiram repartir o filet mingnon a roer ossos solitariamente.
O Slackware foi o primeiro a ganhar fama nos servidores, depois vieram outras distros.

Em paralelo veio a idéia de ampliar o uso do GNU-Linux com o tal pacote que atendesse 90% das necessidades do importantíssimo usuário.
comum.
A briga saiu do servidor e ganhou as ruas, digo os desktops. É um jogo onde a cada rodada, não apenas as cartas são distribuídas, o baralho muda também e é diferente do anterior. Coisa de maluco mesmo.


[7] Comentário enviado por xerxeslins em 13/06/2011 - 15:10h

Para mim uma aula. Nota 10.


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