lcavalheiro escreveu:
Vou atender à sua solicitação pontualmente
Patrick03 escreveu:
lcavalheiro escreveu:
Tudo o que pagamos é fruto de um serviço prestado de livre e espontânea vontade daqueles que o provém,pois diferente de visões utópicas, ninguém perderia tempo fazendo de graça coisas para outras pessoas, pelo menos não de vontade própria.
Qual é a diferença entre prestar um serviço de livre e espontânea vontade e prestá-lo de graça? Epistemologicamente, moralmente e factualmente, nenhuma. Sob sistemas capitalistas ninguém presta um serviço de livre e espontânea vontade, mas o faz pela expectativa de remuneração ou recompensa, pois sem essa remuneração ele não disporá dos recursos necessários para atender suas necessidades básicas (assumamos, para efeito de argumento, que necessidades básicas sejam apenas: comida, abrigo e manutenção da existência). Portanto, se ele não prestar o serviço, ele não atenderá suas necessidades. Logo, ele não o faz por livre e espontânea vontade, mas por pressão da necessidade. Foi-se a primeira parte de seu argumento.
Vamos pegar um modelo não utópico, pois há, realmente, uma diferença imensa entre modelos teóricos e modelos práticos. Vamos analisar por um momento as sociedades cooperativistas ditas primitivas, como as tribos indígenas ainda não totalmente "civilizadas" ou as comunidades aborígenes na Austrália e Polinésia. Suponho que você tenha frequentado alguma escola por algum tempo, logo não vou ofender sua inteligência discorrendo sobre como elas se organizam, e, portanto, vou assumir que você as conheça. Nessas sociedades, cada membro tem sua tarefa/obrigação/responsabilidade da qual todo o grupo depende e sem a qual o grupo enfrentará maiores dificuldades. Assim, ninguém estaria "perdendo tempo" fazendo coisas de graças para os outros, mas garantindo que a comunidade tenha melhores condições para enfrentar as vicissitudes da existência. Usando um básico de contratualismo social (se não conhece isso, vá ler
Leviathan, de Thomas Hobbes, ou pague a minha hora-aula de professor particular), é trivial demonstrar que o indivíduo tem total interesse no sucesso da comunidade na qual se insere. Deixo a demonstração como exercício aos leitores.
Assim, argumentar que os indivíduos não possam de boa vontade fazer coisas de graça para outras pessoas é demonstração de má-fé por ignorar evidências empíricas de que é possível ter modelos sociais práticos em que o trabalho não visa a remuneração ou o lucro, mas o bem-estar da comunidade, este assumido como condição
sine qua non para o bem-estar do indivíduo, e portanto esse trabalho possa ser feito de boa vontade sem visar remuneração - mais uma vez, a demonstração deste ponto é trivial, portanto deixada ao encargo dos leitores. Como visto, sob sociedades capitalistas o indivíduo vende sua força de trabalho ("presta serviços", como você disse) para receber em troca recursos com os quais possa garantir a sua existência, e em modelos cooperativistas o indivíduo emprega sua força de trabalho sem expectativa de lucro ("de graça", como você disse) para garantir o bem-estar da comunidade.
Trivial, né?
Não interessa o que era para ser, importa o que é. Não interessa o que era para ser o socialismo/comunismo, importa o que ele causou. Numa sociedade do tipo, dificilmente àqueles que defendem tais ideias abomináveis poderiam fazê-lo.Provavelmente estariam ocupados numa lavoura usando ferramentas primitivas, sem a possibilidade de usar ferramentas modernas e eficientes, pois já que não haveria quem se dispô-se a "perder" tempo estudando formas de criá-las para comercializar.
Só quero dizer que coisas como comunicação via satélite, celular e a maior parte dos procedimentos médicos existentes hoje foram desenvolvidos na União Soviética ou em Cuba. Logo, seu argumento falha na verificação de materialidade das premissas - jeito técnico para dizer "o que você falou não passa de pura besteira".
Livre mercado é sinônimo de aprimoramento humano, da forma de extração do meio ambiente e de relações do além-muro de nações. É o único meio da paz e harmonia entre nós.
Parece que alguém aqui não estudou as consequências das privatizações que aconteceram no Brasil durante o governo FHC...
Assumindo que você realmente acredite nisso que você escreveu no trecho citado, sinto-me na obrigação de dar-lhe uma resposta intelectualmente honesta - pois sinto que, caso você acredite, mandá-lo pesquisar será tão frutífero quanto mandá-lo escrever poesia em cantonês. Existe um grande problema nas relações de livre mercado: a ausência de garantias trabalhistas para o trabalhador. Não falo em legislação, mas faço aqui um apelo à lógica: se o empregador pode dispor de seus funcionários da maneira que bem entender, e supondo que o empregador tenha como objetivo obter o maior lucro possível, por qual motivo ele pagaria um salário digno aos trabalhadores? Por qual razão ele se importaria com coisas "insignificantes" como a saúde deles ou a segurança do local de trabalho? Por que ele não empregaria crianças pela metade do preço? Por que ele não submeteria o trabalhador a jornadas de 16h diárias com um salário inferior ao mínimo necessário para o atendimento das necessidades básicas e depois "venderia no vale" ao trabalhador o que este não conseguisse comprar com seu salário?
Se estamos supondo uma situação de livre mercado, o empregador não teria razão nenhuma para se preocupar ou se incomodar com essas e muitas outras coisas, não é? O resultado final seria uma pequena elite formada pelos proprietários dos meios de produção (aqueles que eu chamei há pouco de "empregadores") literalmente escravizando a massa pobre e despossuída abaixo deles (a galera que eu chamei de "trabalhadores"). E o trabalhador que não aceitar esse regime de produção será demitido e substituído prontamente por algum outro miserável que esteja tão ou mais necessitado que ele.
Esse é o mundo em que você quer viver? Vai na fé. Da relação empregador-trabalhador é trivial extrapolar como seriam as relações entre nações em um modelo de livre mercado. Deixo a extrapolação como exercício aos leitores.
Se um empresário paga mal para um empregado, temos que ver as causas do fim. Não acha? O governo dificulta a vida de todos com impostos e falsos direitos. Afinal, o preço das coisas aumenta porque o imposto a ser pago ao governo é repassado para os consumidores.
Com essa sua afirmação eu tenho certeza que você não vive no mundo real, mas em alguma utopia baseada na canalhice intelectual de gente como Mises. Saúde, segurança e educação públicos gratuitos e de qualidade são falsos direitos? Aposentadoria é um falso direito? Direito a licença médica para tratamento é falso direito? Faça-me o favor, meu caro: vá para casa e volte para a conversa apenas quando você for capaz de trazer honestidade intelectual para a conversa.
Sobre os impostos, eu tenho uma coisa engraçada pra te contar. O Brasil é um dos maiores exportadores de carros para a América do Sul - suponho que você saiba disso. Explica pra mim então porque um Gol 1.6 completo vendido no Chile é mais barato do que o Gol 1.0 básico vendido no Brasil apenas usando a lógica dos impostos. Escolhi o Chile porque ele é um Estado de bem-estar social, tal como o Brasil se propõe a ser, logo também tem uma carga tributária insana.
Não quero ofender, mas peço que tenha argumentos mais profundos já que é um professor, aja como tal e para de ficar se exaltando por ter lido não sei quantos livros.
O que não foi um argumento, mas demonstração de ojeriza ante a pobreza intelectual de algumas pessoas que saem atacando idéias opostas sem nem as conhecer.
Particularmente, eu sou um anarquista. Exatamente por isso, eu me dou ao trabalho de conhecer o que está "do outro lado da cerca", por assim dizer. E, caso você seja intelectualmente honesto o bastante para admitir isso, espero que você perceba que não usei nenhuma teoria anarquista para apresentar esses esboços de argumentos. Divirta-se com a leitura. Have a cookie, dude.
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Dino®
Vi veri universum vivus vici
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Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta
Mensagem do dia: Satã representa conhecimento sem limites e não auto-ilusão hipócrita.
Cara... Com certeza você entende das coisas. Mas, uma coisa ainda não consigo entender: tu acha mesmo que dá pra ser anarquista? Ou melhor, anarcocapitalista?
Você deu belos exemplos de tribos indígenas, parcialmente urbanizadas, ou não. Perfeito. Elas funcionam. Mas, tu acha mesmo que um país, globalizado, conseguiria viver sem o Estado?
Concordo que Estado bom é aquele que pouco governa. Que devemos ter uma economia "livre" de mercado, mas acredito que o Estado deve existir para barrar as práticas abusivas do "capitalismo malvadão". Como citado no seu texto: carga horária abusiva e salários abaixo do mínimo. Os tão difamados "direitos trabalhistas".
A meu ver, nem um condomínio funciona se não houver um síndico, nesta analogia, ele seria o Estado. Como vai funcionar um país?