raserafim
(usa Slackware)
Enviado em 23/05/2017 - 18:43h
Penso que não é possível fazer uma relação tão imediata entre campos políticos (esquerda e direita) e bases tecnológicas (Linux e Windows); apenas de maneira muito mediada é possível fazê-la.
por um lado, se tomarmos sob a perspectiva individual, essa relação é significativamente parca. sob a perspectiva do usuário o uso que este faz da tecnologia se dá, fundamentalmente, por questões de caráter técnico e pela ausência de possibilidades reais de escolhas (por uma diversidade de motivos: desconhecimento; monopólio de mercado; etc...)
mesmo quando um usuário faz a defesa do Software Livre ou do Open Source, essencialmente, e quase sempre, o faz por questões filosóficas ligadas à tecnologia; e não por questões filosóficas ligadas à projetos societários.
aqueles que conseguem estender a clara consciência que tem de seu campo político para o âmbito político da tecnologia são absolutamente residuais.
no entanto, por outro lado, se a relação entre esquerda e direita com o Linux e Windows for feita sob a perspectiva de projetos societários, aí sim a relação é significativamente mais estreita.
dá para se considerar que o Windows, sobretudo, por ser desenvolvido sob a filosofia da propriedade intelectual privada (copyright, e assemelhados), é um representante e garantidor da reprodução do pilar nuclear de uma sociabilidade capitalista, neste caso, no âmbito técnico-virtual: a propriedade privada dos meios de produção.
no mesmo referencial, o GNU/Linux (neste caso não necessariamente o Linux), por seu turno, na medida em que é desenvolvido essencialmente sob a filosofia do Software Livre (que não é o mesmo que Open Source), não baseando, portanto, o seu desenvolvimento na filosofia marcada pela defesa da propriedade privada, e sendo em larga medida uma produção socializada, estaria assim mais alinhado com as diversas posições do espectro político do campo da esquerda.
o Linux, no seio do movimento do Software Livre, pode (e em minha avaliação, deve!) ser entendido como uma "trincheira de luta" para aqueles sujeitos, particularmente os coletivos, da esquerda (sejam eles militantes orgânicos ou não): desde aqueles que tem como horizonte a socialização dos resultados da produção; àqueles que tem como horizonte alguma socialização dos meios de produção; até àqueles que tem como horizonte a socialização dos meios fundamentais de produção viabilizada pela completa supressão da propriedade privada desses meios de produção.
(disso não decorre que ser de esquerda deva significar utilizar o Linux. pensar assim está mais para os esquerdismos dos mais variados tipos do que, propriamente, para a esquerda.)