O mascote do
FreeBSD é o pequeno e simpático
Beastie, um ser vermelho com chifres e rabo. Por ter uma aparência semelhante ao que nós ocidentais entendemos como demônio, ele é até hoje visto com certo receio, principalmente pelos mais religiosos. Existem alguns até que acreditam que os criadores do FreeBSD possuíam um vínculo com satanismo e "forças ocultas". Mas porque o mascote do FreeBSD é um demônio? Existe alguma mensagem subliminar nisso? São os usuários do FreeBSD adoradores do diabo? O que dizem os desenvolvedores?
Definição oficial
Segundo a página oficial do projeto, o Beastie é uma representação dos daemons que "rodam" no FreeBSD. No contexto do mundo Unix, e o FreeBSD possui origem no Unix, daemons são processos que permanecem em execução em modo background, ou seja, segundo plano, administrando tarefas sem a intervenção humana. Em outras palavras ele funciona como um processo que auxilia o sistema operacional ao gerenciar outros processos, e isso sem que haja a necessidade do administrador do sistema interferir diretamente.
Neste contexto, podemos dizer que o daemon no mundo Unix é um ajudador do sistema, executando sem que ninguém o veja, mas contribuindo para o bom funcionamento do sistema e evitando que o usuário precise intervir em tarefas específicas. Isso significa que o usuário não precisa ficar monitorando determinadas tarefas, identificando sua execução, status ou programação de forma manual, pois o daemon deste processo verifica isso automaticamente. No nosso mundo, usuários do FreeBSD, o nosso daemon possui um nome: Beastie!
Porém a dúvida permanece: qual a relação entre um processo que automatiza a administração de outros processos com um mascote que possui a imagem de um demônio? E porque se chamam "daemons", termo que remete a demônios?
Origem de tudo
Embora hoje nós sempre associemos o termo "daemon", demônio, a um ser negativo que pratica o mal e possui apenas desejos satânicos (seja lá o que isso signifique), sabemos que o termo é interpretado de forma equivocada. Na verdade este termo possui origens muito mais antigas, que remontam a mitologia grega, onde os daemons eram seres sem qualquer inclinação particular ao bem ou para o mal, e que possuíam a finalidade de servir os seres humanos, algo muito parecido ao conceito moderno de anjo da guarda.
Estes seres possuíam, na mitologia, várias formas sendo representadas em muitos casos como crianças, mulheres e homens. Porém a forma que mais representa um daemon é, sem dúvidas, um ser com chifres (em alguns casos mais de dois) e rabos (em alguns casos mais de um). Outro ponto importante é que eles não eram adorados, ou seja, não eram considerados deuses, apenas ajudadores da raça humana que não necessariamente cumpriam ordens destes deuses. Em alguns casos estes daemons escolhiam pessoas específicas para servirem e protegê-las.
O próprio filósofo Sócrates dizia possuir um relacionamento ativo com seu daemon, inclusive ouvindo com frequência sua voz, que lhe transmitia ensinamentos, porém sem interferir no seu livre arbítrio. Era comum, inclusive, que grandes guerreiros afirmassem ser protegidos por daemons, causando um certo temor nos inimigos supersticiosos.
Segundo ainda a mitologia grega, estes seres eram muito semelhante aos gênios da mitologia árabe, como o da lenda de Aladim e em alguns casos eram associados a felicidade, por isso a palavra grega que designa felicidade é "eudaimonia". Ser feliz para os gregos é viver sob a influência de um bom daemon.
A verdade é que independente da época ou lugar sempre existiu pessoas que alegaram receber proteção e/ou conhecimento de seres sobrenaturais, chame você do que quiser chamar: anjos da guarda, espíritos, guias ou orixás ou até extraterrestres, por exemplo, como é o caso do grande inventor nos campos da engenharia mecânica e eletrotécnica, Nicola Tesla.
Questões filosóficas à parte, podemos concluir que as referências mitológicas e até históricas que fazem referencia aos daemons, não são nem de longe malignas. Por outro lado sabemos que a imagem que temos de um ser maligno, como o diabo por exemplo, com chifres e rabo, é algo bem recente na história do homem, em algumas religiões, por exemplo, estes seres são até hoje representados por seres belos e atraentes.
Diante disso surge a seguinte dúvida: se eles eram representados por muitas vezes em forma de humanos, porque os daemons são representados mais frequentemente por um ser que possui chifres e rabo? Para responder esta pergunta vamos analisar o real significado de chifres e rabo.