É interessante ler textos antigos de listas da USENET, onde o leitor acaba encontrando as questões que modelaram a informática para o que é hoje.
Na famosa
comp.os.minix, onde nasceu o
Linux (assim mesmo, como o Torvalds chama e como era chamado na época - procure as fontes), há um tópico de 12 de dezembro de 1992 intitulado "Is MINIX much better than LINUX?", onde um certo Stephen Schow pergunta por quê comprar o Minix quando ele pode ter o
Linux de graça (graça, como em cerveja grátis).
A discussão, que deveria ser sobre o Linux como substituto do Minix, foi levado à ambigüidade do sistema ser gratuito, mas exigir que o usuário gaste com hardware. Vejamos o argumento.
O Argumento
Vincent Archer argumenta: "Penso que a questão no Linux não é que ele é de graça? Terei que gastar $150 para comprar uma placa 386. Ok. E aí?".
Qualquer pessoa, ao ter contato com o conceito de free software, pensa nele como "free as in free beer". É uma reação normal, nada místico ou relacionado ao desconhecimento de uma verdade universal. Apenas lendo sobre o assunto e conversando com pessoas que entendem o conceito pode quem tem esse contato inicial também entender o que ele significa.
Hoje, o inverso dessa questão do hardware perturba os usuários do Linux, que muitas vezes precisam trocar de hardware para ter maior compatibilidade do sistema. Além de questões "filosóficas", a incompatibilidade imediata com hardware mais recente ainda é uma das barreiras para a real adoção do Linux pelos usuários de computador - um assunto fora do escopo deste artigo.
O Contra-Argumento
À mensagem de Archer, Linus escreve esta resposta:
"Não, a questão do Linux não é que ele é gratuito, e nunca foi. Esta é uma das questões que se vê mais regularmente, já que é certamente algo que recebe a atenção da maioria das pessoas. Também é uma coisa que eu insisti na flamewar "Linux is obsolete", como algo que eu acho que o Minix *deveria* ter tido como uma de suas principais questões (...)."
"De fato, se quiser, você pode pagar por sua instalação de Linux: há pelo menos dois CD-ROMS disponíveis já contendo os fontes do Linux, e um terceiro parece estar sendo feito. (...) Não estou ganhando dinheiro com eles, mas isto não significa que eles estão dando o Linux por nada. E não me importo, porque 'de graça' não é principal questão, apenas um grande bônus."
"A *questão* com o Linux é que eu não tinha um bom SO na minha máquina (eu tive DOS e Minix, e minha definição de bom é obviamente diferente disto), então eu escrevi um. Torná-lo gratuitamente disponível foi uma decisão separada não diretamente conectada à sua concepção (...): graças a isso, ele é agora um sistema bem melhor do que poderia ser de outra maneira. Me permitiu ter bom feedback e teste do sistema, bem como patches para fazê-lo rodar melhor: o código SCSI, o código de rede e o novo e melhorado emulador matemático foram todos totalmente escritos por outros."
"Então enquanto você obtém o Linux de graça, a real razão para você *usá-lo* (e mesmo pagar por ele) é porque é um SO similar ao Unix danado de bom".
Conclusão
Linus já aplicava a idéia de software como algo compartilhado, de colaboração, mas ainda diferente do que a Free Software Foundation define como "free". Sozinho, certamente não teria a capacidade necessária para desenvolver todo um sistema operacional, e adotar um sistema compartilhado de desenvolvimento foi um dos fatores determinantes do sucesso do Linux, juntamente com a adoção da GPL.
O estado de "free" como gratuito não deveria desmerecer o Linux, porque ele se comportava em seu lançamento comprovadamente como uma versão mais aprimorada do sistema Unix-like mais utilizado em sua época, o Minix. A utilização dele não deveria ser motivada pelo fato de ser gratuito, mas sim por ser um bom sistema (bem diferente do que ocorre entre alguns linuxers hoje). E por ser um bom sistema, deveria motivar seus usuários a desenvolvê-lo. Esta é a grande questão do Linux, que deveria ser levada em consideração por todos os seus usuários.
Bibliografia
O texto original pode ser lido
aqui.