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(usa Nenhuma)
Enviado em 02/11/2016 - 15:44h
O texto a seguir foi uma apresentação do livro "Software livre e inclusão digital" publicado em 2003. O autor se chama Hermano Viana, antropólogo.
"Na semana em que escrevo este prefácio, a revista Business Week - cuja linha editorial não é nenhum exemplo de luta contra o conservadorismo tecnocomercial - coloca 'A Rebelião Linux' na capa, prometendo revelar para seus leitores 'como um grupo ralé de geeks do software está ameaçando a Microsoft© e a Sun© - e virando o mundo dos computadores de cabeça para baixo'. Ainda na capa vemos o Tux, pinguim mascote do Linux, matador de mosca em punho, pronto para dar uma raquetada certeira na borboleta que representa o império do Windows© e de outros programas de código fechado. Nas páginas centrais da revista, aprendemos que a Crhysler©, a Sony©, a IBM©, e mesmo o Departamento de Defesa de Bush já preveem um futuro de 'código aberto' para seus 'negócios'.
Mudou a Busines Week? Mudou o capitalismo? Ou essa é mais uma tentativa de cooptação de qualquer movimento que apresente ameaças para sua dominação global? Seja o que for que as corporações pensam quando ganham dinheiro - ou economizam dinheiro - com o GNU/Linux, uma coisa é para mim certa: esta é a batalha política mais importante que está sendo travada hoje nos campos tecnológicos, econômicos, sociais e culturais. E pode mesmo significar uma mudança de subjetividadeque vai ter consequências decisivas até para o conceito de civilização que vamos usar no futuro (breve).
Interessante perceber que a rebelião (ou guerra, ou transformação, ou guerrilha terrorista - o nome você escolhe) acontece quase despercebida. Nenhum avião foi jogado na sede da Microsoft©. Nenhuma FARC luta escondida nas florestas do Vale do Silício. Ninguém lançou um manifesto (ou tanta gente lançou tantos, que nenhum adquiriu autoridade central), nem organizou um partido ou uma tropa de elite. Tudo tem acontecido de forma descentralizada, fruto do trabalho coletivo de gente que tem interesses diversos, mas que decidiu trabalhar de graça - dando novo sentido à palavra trabalho - para que mais e mais pessoas, no mundo inteiro, possam ser donas de seus destinos ou ter uma vida melhor (e sabemos que vida melhor hoje em dia significa inclusão digital). Não conheço exemplos de movimentos semelhantes (organização sem hierarquias; eficiência veloz) na história da humanidade.
Este livro é a prova de que o Brasil não está por fora dessa rebelião 'silenciosa' e decidiva. Deve ser lido como um relato, uma reflexão teórica, um manual prático. Relato de experiências de utilização de software livre em projetos de inclusão social que têm sido feitas com resultados estimulantes - mas sem que a 'grande' mídia, como é de se esperar, lhes dê a devida cobertura - em vários recantos do território nacional, - da prefeitura paulistana ao sertão do Ceará. A partir dessas experiências, muito concretas, e dos problemas também muito concretos que enfrentam (ainda muito pouco discutidos, como o de um controle democrático para o Fust), outros textos propõem caminhos críticos de avaliação e sugestões a serem levados em conta por todo projeto social que busque disseminar o uso de computadores em países que enfrentam gravíssimos problemas sociais como o Brasil.
É com otimismo que devemos saudar este lançamento logo nos primeiros meses do governo Lula. O país pode aproveitar o momento político favorável e as lições deste livro para dar um passo claro no sentido da real inclusão digital, resistindo ao canto de sereia das megacorporações - é preciso se preparar: vem chumbo grosso por aí - que querem nos aprisionar na dívida externa-eterna da compra de softwares que só desinformados podem classificar como melhores do que os que existem livres e de graça por aí (e só por desinformação e 'servidão voluntária' é que a gente não usa GNU/Linux).
A questão do software livre é também uma questão de libertação nacional. E, se tiver a coragem, o Brasil tem agora a chance de realizar uma grande campanha nacional de mobilização pró-liberdade digital, tornando-se assim referência mundial na luta pelo software livre - luta que todos os governos mundiais ainda vão ter que travar - e também, treinando nossa criatividade nesse sentido, pólo produtor de novos softwares - livres também, é claro- que poderão globalizar - no bom sentido - nossas conquistas libertárias".