paulo1205
(usa Ubuntu)
Enviado em 23/02/2015 - 02:48h
Prezado luiztux,
Meu comentário não foi dirigido a nenhuma pessoa específica nem foi condenatório. Em particular, a forma que eu usei para tratar a questão do pedido de código pronto foi dizer como normalmente se procede, e por que motivo eu pessoalmente acredito que essa forma é melhor.
Com relação a questão caráter/caractere, peço que você, com calma, siga sua própria sugestão de ler antes de postar. Eis algumas razões para tal:
- Eu não usei a palavra “analfabeto” em momento nenhum do meu texto. Você tem o direito -- e tem, mesmo! -- de se ofender com qualquer coisa que eu disser ou escrever, mas não deve colocar palavras estranhas na minha boca ou nos meus textos, e depois me julgar com base no que eu não disse.
- Eu nem mesmo tinha reparado que você usou a palavra “caractere” nos comentários do seu programa. Na verdade, minha crítica era por causa do texto do enunciado da questão (que, por sinal, eu critiquei também por outras razões).
- Eu sei do uso corrente da forma “caractere”, tanto que eu mesmo disse de onde surgiu esse neologismo, em detrimento da forma clássica do Português usado no Brasil (mas
admito que errei na data: o jargão “caractere” é da década anterior, i.e. anos 1970, e não 1980, como eu supunha).
- Antes de tudo, a má informação e a má formação se aplicam a quem criou o tal neologismo, cujos usuários modernos muitas vezes estão mais na condição de vítimas, que repetem o erro inicial por imitação (como eu disse anteriormente, ele é fruto da adoção em massa de traduções feitas por gente que não tinha o devido conhecimento da língua, e muitas vezes ignorava também o assunto tratado no material que traduzia).
- Não sei quantos anos você tem, mas eu vivi a época de transição entre literatura de Informática quase exclusivamente em Inglês para a fase em que era difícil conseguir nas lojas a edição original que servira de base para a tradução mal-feita. Algumas traduções eram ruins de amargar (eu cheguei a jogar um livro que tinha comprado no lixo -- sem exagero --, de tão ruim que era). Hoje, a coisa melhorou significativamente.
- Eu sei que línguas são entes dinâmicos. Entretanto, eu sou, sim, um conservador no que diz respeito a línguas. Talvez seja somente questão de gosto, mas muitos neologismos, por mais difundidos que sejam ou quanto tenham sido incorporados ao jargão da nossa área, são simplesmente hediondos (pior do que o “caractere” no lugar do “caráter”, por exemplo, são “gerenciar” e “gerenciamento” no lugar de “gerir” e “gestão”, ou “aprovisionar” e “aprovisionamento” no lugar de “prover” e “provisão”).
- Se você fizer o caminho reverso do que sugeriu que eu fizesse (i.e. buscar “caráter” no mesmo dicionário Michaelis
on-line), verá que a primeira acepção diz “figura usada na escrita”; uma definição concisa e precisa e, ao mesmo tempo, suficientemente genérica para abranger tanto as marcas feitas em papel quanto as que se desenham na tela de um microcomputador.
- Por outro lado, a definição de “caractere” no mesmo dicionário é vaga e imprecisa, flertando abertamente com o erro puro e simples, mesmo limitando o escopo apenas à área de Informática. Pior: a complementação de “qualquer tipo de notação” lista explicitamente apenas “dígito numérico, letra ou símbolo”, deixando de fora justamente aquilo que poderia fazer diferença entre um “caractere” e uma “figura usada na escrita”: os códigos não-imprimíveis usados para controle (aliás, a 12ª impressão -- em papel, aparentemente de 1975 -- do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, publicado pela Editora Nova Fronteira, vai exatamente pelo mesmo caminho, embora ainda chamasse de “processamento de dados” aquilo a que hoje nos referimos como “Informática”).
- Os exemplos de uso do mesmo verbete no Michaelis são casos à parte de mau uso e definição imprecisa e errônea. Leia com calma e faça uma crítica racional da explicação de “caractere curinga” e “caractere reservado”, e veja se eu não tenho razão em dizer, agora, que mesmo a presença de uma palavra num dicionário não é garantia de qualidade e precisão da informação.
- O outro
site que você indicou, de um certo Aurélio, pode até ser bom (não li outros assuntos), mas o que ele diz sobre a forma pretensamente correta de dizer “caráter curinga” é também, no máximo, advocacia de gosto pessoal, ancorada numa bibliografia que casualmente amparava uma tese decidida a priori (se ele tivesse, como nós aqui, usado o Michaelis ou o Aurélio, talvez o sentido da demonstração tivesse de ser outro). Há também erros, como o de dizer que certas formas não existem, só porque ele possivelmente não achou onde procurou. Por exemplo: “carácter” é _a_ forma usada em Portugal, e está em todos os dicionários que tenham o cuidado de olhar para o Velho Continente. Por outro lado, quando eu era estudante, aqui no Rio, ninguém que eu conhecesse falava nem “caráter” nem “caractere”, mas todos falavam “caracter” (oxítono e com vogal aberta). Aliás, todos os que conheço da minha geração ainda falam desse jeito, sendo eu o único que de que tenho notícia de que voltou à ortografia aprendida na sétima série. Não que eu abrace a tese, mas, se a “língua é viva”, quem pode dizer que algo não existe ou que é errado, só porque (ainda) não o conhece?