O primeiro caso é a última conversão, porém a mais interessante.
ML, é uma "heavy-user" do computador, utiliza-o para trabalho envolvendo MUITO texto, diagramação, imagens e montagens de animações simples. Ela atualmente (por enquanto) é proprietária de um Toshiba AS100-QualquerCoisa, Celeron 1.6, 512, 30G, 15'', bateria morta, USB 1.1, porém o mesmo conta com uma GeForce420M (64MB) muito boa por sinal.
Bom, o foco não é o hardware, mas sim para ter uma noção da máquina já ultrapassada, com 8 anos de uso contínuo.
ML me ligou dizendo que o negócio estava feio. O Word era lento, o Excel era MUITO lento, enfim, tudo era muito lento. Após uma breve conversa com ela, descobri o que precisava:
- Editor de texto
- Planilha eletrônica
- Photoshop Look'a'Like
- IM's variados
- Firefox (sim, ela só usa Firefox, nenhum outro)
Fácil não? Nem um pouco!
A abordagem
Já havia mostrado o Ubuntu
GNU/Linux para ela e mostrado algumas funções interessantes que ele possui. A cada descoberta de software que ela fazia para ajudar sua rotina, eu prontamente investigava se havia algo semelhante ou se era compatível com Ubuntu, se desse tudo certo, ia lá e mostrava como era possível fazer isso também, alias agradeço a ela muita coisa boa que descobri.
Para ajudar, ela, incrivelmente, tem preferências por WEB: webmail, GoogleDocs, Moodle, Wikis, tudo web! Que maravilha não?
Bom, assim foi por algum tempo, uns 4 meses mostrando que era possível realizar todas as tarefas de trabalho no Ubuntu. Twitter, GoogleDocs, apresentações PPT, .doc, mp3, rádio, programação, editoração...
Lembrete: claro que isso levou tempo e me fazia correr atrás de algo, mas lembro que isso é conhecimento e conhecimento não tem valor.
Quando ela me ligou dizendo que "o negócio está feio", já tinha tudo que ela precisaria para migrar alegremente.
A migração
A migração foi relativamente tranquila, os materiais foram básicos:
- 1 HD Externod e 80G
- 1 CD do Ubuntu que chegou via Ship-IT (que foi entregue a ela)
- 1 adesivo Ubuntu que veio com o CD (que também foi entregue a ela)
Lembrete: o adesivo e o CD Printado foram firulas, mas isso conta em usuários que tem um certo receio em mudar de sistema.
Meu trabalho foi basicamente dar o boot via CD. Percebi em outras experiências que deixar o usuário instalar dá mais confiança a ele, pois ele está vendo tudo que está acontecendo com sua querida máquina. Após algumas instruções como "GMT é São Paulo -3, Usuário não tem espaço" o sistema foi instalado sem muitas delongas.
Após o restart, lá veio aquela janelinha de drivers restritos, afinal ela possui uma NVidia no notebook e também as atualizações. Tudo foi instalado pela própria usuária, novamente com a intenção de mostrar como é fácil lidar com o Ubuntu.
Nota: após o restart, a tela do notebook ficou com uma borda preta no lado esquerdo, após investigar vi que tem solução. A placa embutida foi modificada pela Toshiba, logo o driver só funciona o da Toshiba (o da nvidia.com também dá a borda preta). Após uns minutos no
ubuntu-forums.com achei a solução e ela ficou super contente.
Mais um reboot e pronto! Ficou supimpa.
Extras
Após todo o procedimento que descrevi, disse a ela que queria instalar 2 repositórios adicionais, o medibuntu e o getdeb. Expliquei em teoria como funciona os repositórios e porque eles são ótimos de se ter. Ela concordou e me levou 2 minutos para fazer tudo, incluindo a atualização da lista do "Central de Programas do Ubuntu".
Ao término, falei pra ela: "Pronto, agora você tem mais uns 2000 programas que podem ser instalados em 2 ou 3 cliques". Já conquistei ela com 1 frase.
Passado tudo isso, já havíamos perdido umas 4 horas de bate-papo, cafés e águas com gás. Agora vem a parte importante, mostrar como instalar programas e onde conseguir informações caso precise, evitando que tudo dependa de mim.
Mostrei a ela o Central de Programas e como era simples clicar e instalar. Junto disto, falei com ela da importância de priorizar os programas que não tem nada de KDE e porque focar no Gnome. Pedi também que só instalasse algo com K ou KDE caso não tivesse encontrado nada parecido. Ela entendeu sem muitos problemas.
Também criamos um usuário e senha no ubuntu-forums (BR e EN) e mostrei os passos de como conseguir informações, isso inclui "seja gentil, não acuse ninguém, relate por completo o que aconteceu ou que você deseja etc...".
Conclusão
Já fazem 6 meses de Ubuntu e ela já disse que não volta pro Windows. Além da máquina estar mais rápida, ela se sente mais segura porque não trava.
Escrevi este artigo (de 3 na série que tenho prontos) tentando mostrar a abordagem diferenciada para cada tipo de pessoa. Não se convence uma pessoa dizendo que é livre ou que é de graça ou que é super-mega-hiper-fodão.
Cada tipo de usuário tem necessidades diferentes, pensamentos diferentes e sua paranoias com relação a computadores. Neste caso específico, a usuária dependia do computador para trabalhar, ela não poderia perder tempo com códigos, comandos ou coisas do gênero. Ela precisa ligar trabalhar e pronto! Por isso a abordagem de mostrar, pesquisar e fazê-la instalar o sistema do 0. Para complementar já fiz umas 2 ou 3 visitas a casa dela. Nessas visitas já vi que ela aprendeu muito e está muito contente com a máquina.
Acredito ser isso que importa. A velha história de vamos ajudar o GNU/Linux a proliferar não é tão simples.
Comece simples, faça com sua mãe, seu pai, irmão, avós (tem um case bom da minha avó que vou colocar aqui). Isso sim é "Spreading Linux".
Comece com parentes ou vizinhos, se eles gostarem, eles vão "espalhar" a notícia que você fez o que fez e ficou supimpa, logo mais pessoas vão lhe requisitar o mesmo e cabe a você analisar a pessoa e tentar fazer passo a passo para migração do sistema da pessoa, respeitando as paranoias de cada um.
Obrigado.
André Morro
Gestor de T.I.
Florianópolis, 4 de Março de 2010