Continuando a série sobre programação, vamos falar sobre modularização. Como dividir adequadamente um sistema? Qual a unidade ideal? Como quebrar funções? Como saber se um módulo está realmente bom? Esse artigo vai tentar responder algumas dessas questões e dar argumentos para pensarmos em muitas outras.
Quando a fatalidade provoca um acidente de aviação, todos ouvimos falar durante muitos dias sobre a análise da caixa-preta do aparelho, que pode revelar a causa do acidente. A caixa-preta dos aviões, no entanto, não é preta, mas sim pintada de uma cor laranja fosforescente, para facilitar as buscas.
Não é desse tipo de caixa-preta, no entanto, que vamos falar.
Em programação, o Princípio da Caixa-Preta nos diz que ao planejar bons módulos devemos conhecer apenas o input e o output de cada um, ignorando completamente o funcionamento interno dos módulos.
Assim, quando especificamos um módulo, não devemos estar preocupados, por exemplo, com o algoritmo que será usado na implementação, mas apenas com o que temos de fornecer ao módulos (input), ou seja, os parâmetros de entrada, e com o que podemos obter dele (output).
O princípio da caixa-preta é extremamente valioso, pois ele torna nossos módulos independentes de implementação.
Você pode estar se perguntando qual a vantagem em termos módulos assim?
Pois bem, tomemos um exemplo:
Imagine que queremos escrever um sistema contábil que usa uma procedure X para calcular o imposto a pagar de uma lista de contribuintes da Receita Federal.
É bem sabido que a Receita Federal muda as regras do Imposto de Renda todos os anos, de forma que a procedure X tem de ser alterada anualmente.
Imagine a confusão que haveria em todo o sistema se outros módulos se baseassem no algoritmo interno da procedure X para realizarem suas tarefas. Cada vez que a procedure X fosse alterada, todos os demais módulos do sistema passariam a funcionar de modo diferente, com novos erros... Coisa de deixar qualquer um maluco! Acreditem em mim, pois já passei por isso...
Porém, se os arquitetos do sistema contábil tivessem usado o princípio da caixa-preta, não haveria problema. A procedure X receberia o CPF do contribuinte (input), pesquisaria os dados necessários para o cálculo e faria o cálculo desejado de acordo com as regras atuais (processing) e retornaria o valor do imposto a pagar (output).
Os módulos do sistema que usassem a a procedure X saberiam apenas que têm de mandar o CPF quando a chamam e que ela retorna o valor do imposto a pagar. Conheceriam o input e o output, mas o processing seria transparente para eles. Assim, quando as regras da Receita Federal mudassem o funcionamento desses módulos não seria afetado pelas mudanças da procedure X.
Portanto, o uso do Princípio da Caixa-Preta é essencial para a facilidade de manutenção, inclusive a manutenção do juízo dos programadores!
[5] Comentário enviado por EdDeAlmeida em 06/05/2008 - 08:51h
stremer,
Tem de fazer ouvido de mercador para os caras que ficam pressionando para acelerar o trabalho. Se você foge dos esquemas bem definidos, acaba perdendo mais tempo no final.
[9] Comentário enviado por EdDeAlmeida em 07/05/2008 - 19:12h
O próximo artigo já está no forno... deve estar pronto para ser postado no início da semana que vem. Aí é só esperar a fila andar. Mais uma vez obrigado pelos comentários e pelo apoio de todos.
[11] Comentário enviado por joaomc em 09/05/2008 - 13:53h
O princípio da caixa preta é bonito na teoria, mas na prática a coisa não é bem assim. Muitas vezes você *precisa* saber o que há por trás daquele método que está chamando, para, por exemplo, saber os efeitos colaterais, se o método é thread-safe, etc.
Mas estou só sendo chato, o artigo ficou bom, parabéns :)
[12] Comentário enviado por EdDeAlmeida em 09/05/2008 - 19:43h
joaomc,
Concordo em parte. Mas saber se um método é thread-safe não viola necessariamente o princípio da caixa-preta. O que viola é escrever código que dependa do algoritmo usado por essa ou aquela função. Isso é uma violação grave, que cria dependência. A questão de ser ou não thread-safe é mais relacionada com o conhecimento dos requisitos do módulo. Vamos discutir isso quando formos falar em análise de requisitos.
rl27,
Obrigado pelo comentário. E tenho certeza que em breve estarei também lendo seus artigos aqui. Basta estudar e estar com a mente aberta para aprender.