Comentário sobre o texto "A cultura da virtualidade", de Manuel Castells.
A evolução dos meios de comunicação corresponde, segundo Castells, a dois modelos de relações sociais (ou mediadores das relações do homem com si mesmo, com o outro e o mundo) chamados de Aldeia Global e Sociedade em Rede.
O primeiro modelo, idealizado por Mc Luhan, tem na televisão o seu grande ícone, em torno do qual as mídias formaram um mercado global homogêneo, transformando o espectador em objeto passivo dos caprichos do mercado, ao mesmo tempo em que, guiadas pelos achados da propaganda e da publicidade, prepararam a mudança em sua linguagem, que veio a se tornar mais flagrante em 1990, com a guerra do Iraque e em 2001, com a queda das torres gêmeas, nos EUA: a transformação do fato em espetáculo, em um show distribuído para todas as partes da terra em tempo real, isto é, sua banalização e transformação em mercadoria efetivamente atraente, seja pela novidade, pelo colorido ou pelo movimento. Desde então, As catástrofes, os grandes julgamentos, as eleições, etc, deixaram de ser acontecimento, passando à categoria de mega-produções.
Até a primeira ofensiva americana ao Iraque, os computadores pessoais ainda não gozavam de grande popularidade por falta de algo que só veio a acontecer em 1995: o surgimento do Windows, o primeiro sistema operacional com uma interface gráfica, primando pela beleza e pelo seu colorido, bem diversos da monotonia do modo texto, inaugurando a era do computador como diversão e a interatividade, marcas da chamada "sociedade em rede".
A partir daí foi uma questão de tempo para que nele se centralizassem todas as formas midiáticas de diversão, de forma que nos dias de hoje a informação e a diversão encontram o usuário em qualquer lugar do planeta, a qualquer hora.
Se antes apenas o rádio podia chegar ao seu ouvinte em movimento (no carro, por exemplo), agora todo tipo de informação pode alcança-lo até mesmo caminhando na rua, e então o assédio do mercado não se limita mais ao horário nobre da TV.
Até a data em que o texto de Castells foi escrito, duas grandes criações ainda não haviam surgido: A interface gráfica do
Linux (Sistema operacional LIVRE e de código aberto, de modo que o seu usuário pode modifica-lo a seu bel prazer, desde que saiba como faze-lo) e a Wikipedia (hoje, a maior enciclopédia virtual do planeta, igualmente livre, escrita pelos seus próprios usuários).
O enorme grau de adesão experimentado pelo Linux e pela Wikipedia nos últimos anos refletem uma nova atitude dos usuários em relação ao mundo virtual, que parece ser a de exigir uma participação efetiva na criação deste mundo, bem como a escolha da forma desta participação e, mais importante, a definição das regras deste mundo.
Então, se é a fantasia a instância que media a nossa relação com o real, a liberdade de fantasiar parece em vias de se impor em um mundo-espetáculo, movido pelos números dos institutos de pesquisa de opinião. Tendo nascido nos EUA, era natural que os americanos reivindicassem para si a governança da rede, e esta ainda se dá pela união com o mais popular sistema operacional que se conhece (Windows), de forma que, no fim, é o CONTROLE que alcança o usuário onde quer que ele esteja, e mais intenso ainda do que nos tempos da "aldeia global".
Nos dias atuais já se pode considerar como possibilidade para o futuro um mundo virtual dividido entre duas tendências que se equilibram mutuamente: uma parcela de usuários cujos apetites, paixões, pensamentos e tendências são determinados de cima, tendo o individualismo, a submissão e a indiferença como marca e uma outra, marcada pela auto-organização, solidariedade e auto-determinação, formando sua contrapartida. Se por um lado a transformação do mundo em espetáculo torna o mundo virtual atraente, mesmo que à custa da autodeterminação e da liberdade de pensar de cada um, por outro, a liberdade de criar, de escolher, de se relacionar de uma forma mais autêntica com o outro e decidir os próprios destinos é uma força cuja existência os papas do mundo virtual não poderão ignorar por muito tempo, sob pena de se tornarem simplesmente coisa do passado.
Fontes: